Transfiguração

Amar com todo coração.

Deus quer meu coração. Não um fragmento, tão pouco uma parte, mas sim um todo, por completo. Por isso devo buscar no mais perfeito modelo de amor, Jesus. Ele amou, ele ama, ele é o próprio amor desde o início e sem fim. Ele nos ama de forma pessoal, incondicional e eterna. Não importa onde estejamos tão pouco nossa condição, ali está o seu amor. Por isso nos é pedido “Amar o Senhor, teu Deus, de todo coração, de toda a tua alma e de todo teu espírito (Dt 6, 5)e “Amar teu próximo como a ti mesmo” (Lv19, 18). Até aí, simples e fácil compreender, certo?

Não temos nenhum problema em crer em Deus, mas não posso dizer com sinceridade que eu o Amo ou amo meu próximo com todo coração, como a mim mesmo. Isso porque sou limitado, sujeito a condições internas e externas que infelizmente me reduzem a praticar tal mandamento. Por isso preciso mais entendimento de como proporcionar a mim e ao próximo a Verdade de todos os tempos: Amor. E assim contribuir para torna-la verdade não apenas por palavras, mas sim com o testemunho.

Para poder entrar na dinâmica que pretendemos praticar, primeiro devo compreender que amar é apreciar, demonstrar; todo, por inteiro, completo; coração, pureza, emoção, afeto. Compreendendo os significados vou perceber que amar com todo coração por maior que seja minha disposição de transferir um sentimento amoroso a alguém, mesmo embora uma ligação afetiva, jamais vai ser na extensão, intensidade, importância ou semelhança como sou amado por Jesus uma vez que sou limitado a emoções e circunstâncias, por exemplo.

Assim propomos um simples exercício para contribuir e viver uma experiência diária mesmo nas limitações para poder, na busca por Cristo, colocá-lo em primeiro lugar com tudo o que tenho e tudo que sou. Apresentamos três passos que se bem vividos proporcionará uma mudança de vida, são eles: pureza, abandono e apreciação.

No Sermão da Montanha diz: Bem aventurados os puros de coração, por que verão a Deus! (Mt 5,8). O primeiro passo é Pureza. Qualidade de quem é livre, sem maldade, sem malícia, demonstração de inocência (atitudes e pensamentos), integro. É uma verdade que desarma todo pensamento maldoso a respeito do outro fazendo compreender que todos têm uma história, um passado, que só o Senhor conhece, e só se libertará quem no caminhar estiver disposto a enfrentar sua verdade sob a luz de Cristo. Por isso, um coração que luta diariamente em busca dessa virtude encontra a cada dia e em cada instante a transformação da realidade individual e coletiva, pois tudo coopera para o bem de quem busca à Deus.

O segundo passo é Abandono. Jesus despiu-se de sua divindade por amor para cumprir a vontade do Pai, e num ato de desespero humano, ainda que por um momento tenha se encontrado só não Se permitiu desviar da missão. Assim quando disse: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes? ” (Mt 27, 46). Esse ato e efeito de largar, renunciar, desistir, ou seja, quando Jesus se encontrou só na cruz não foi o grito final, mas sim o início para suportar com paciência e constância nos ensinando que vale a pena amar, mesmo aqueles que aos olhos aparentam não ter condições nenhuma de se aproximar ou transferir tal sentimento. Isso se dá pela alegria que se resume a vida eterna, pois tudo estava de acordo com o plano de Deus.

 Por que és precioso a meus olhos, porque eu te aprecio e te amo (…) (Is 43, 4). O terceiro passo: Apreciar. Dar valor, estimar, prezar, admirar. Uma experiência fundamental para depositar mais empenho e assim encontrar com os olhos do coração as virtudes, valores as qualidades do outro. Sempre é possível apreciar. Sempre é possível valorizar. Eu devo me esforçar para encontrar no outro a Face de Cristo chagado que se revela a medida que me coloco em seu lugar e me decido Amar. Isso faz tudo valer a pena e ajuda a conhecer verdadeiramente o outro, tirando aos poucos as escamas produzidas por mim ou alimentadas por terceiros, gerando gratidão a Deus por essa possibilidade de identificar não mais um indivíduo, mas sim um filho amado que também tem uma história.

Amar com todo coração é se alegrar com o sofrimento. É entender que não iremos mais afirmar com nossa justiça, e sim com a misericórdia divina. Entretanto, afirmo que precisaremos romper com nós mesmo para aprofundar e estar disposto a isso. Logo, havendo essa consideração e respeito pelo outro é como se eu colocasse sobre sua vida um teto, ou seja, uma proteção, onde naquele espaço de tempo, com o olhar apurado sobre os pilares da pureza, abandono e apreciação dentro de mim irá gerar o sentimento de alegria, pois não é mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim (Gl 2, 20) dando-me essa capacidade extraordinária de amar.

Reafirmo que só conseguiremos pôr em pratica esse exercício espiritual se colocando no lugar do outro, me entregando sem reservas a Cristo, para dar atenção, compreendendo as dificuldades, agindo para o bem, não esperando nada em troca, sem interesses, elogiando com sinceridade, escutando com atenção. Não é uma corrida de cem metros, estamos falando de uma maratona. Será na paciência, mantendo o ritmo da oração, na Palavra de Deus, pois ela é a espada para atacar e defender nesse grande combate que levará o outro a alcançar a vitória. Jesus nos amou de todo coração, com sua carne rasgou o véu do tempo, abrindo o céu e nos presenteando com a Salvação. Aceitar esse presente exige de mim e de você seguir os passos de Jesus.

Everton Pinheiro da Silva- Consagrado.

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