Transfiguração

SANTA CATARINA DE GÊNOVA E SEU TRATADO SOBRE O PURGATÓRIO

Santa Catarina de Gênova (1447–1510) é uma das figuras mais inspiradoras do misticismo católico, conhecida por suas profundas reflexões sobre o Purgatório. Nascida em uma família nobre de Gênova, Itália, Catarina viveu uma vida marcada por conflitos internos e um casamento difícil com Giuliano Adorno, um homem impulsivo e de vida desregrada. Esse relacionamento tumultuado a levou a experimentar uma profunda insatisfação e desilusão. Em vez de buscar consolo em distrações mundanas, ela voltou-se para a espiritualidade, o que resultou em uma conversão radical que transformou sua vida e deu novo sentido à sua existência.

Sua conversão foi intensa e repentina. Catarina relatou sentir profundamente o amor e a bondade de Deus, contrastando com a distância que percebia entre esse amor e sua própria vida pecaminosa. Essa experiência fez com que ela sentisse, em suas palavras, um “fogo ardente” em seu interior, um desejo de purificação e comunhão com Deus.

Por que os católicos esqueceram o Purgatório? Porque minimizamos duas coisas: a gravidade de nossos pecados e a santidade de Deus.

Um único pecado venial não perdoado ou qualquer pecado não reparado impede que a alma compareça à presença do Deus santíssimo. Quando Isaías viu a Deus em seu trono no Céu, exclamou imediatamente: “Ai de mim — gritava eu. Estou perdido porque sou um homem de lábios impuros, e habito com um povo (também) de lábios impuros e, entretanto, meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!” (Is 6, 5). Isaías compreendeu, como que por instinto, que um pecador não é digno de estar na presença de Deus. Por quê? Porque, como ouviu os anjos cantarem: “Santo, santo, santo é o Senhor Deus dos exércitos!” (Is 6, 3). Deus é santo, o que quer dizer que Ele está separado da humanidade pecadora.

Assim, que imensa graça é o Purgatório! A mancha de pecado numa alma — mesmo em estado de graça — impede-a de estar na presença de Deus; mas Ele nos dá o Purgatório como remédio.

Como é o Purgatório? É aí que nossa santa, Catarina de Gênova, entra na história. As declarações oficiais da Igreja sobre o Purgatório são muito pontuais. Em suma, a Igreja diz duas coisas sobre o Purgatório:

“As almas dos justos que no instante da morte ainda estão marcadas por pecados veniais ou por penas temporais devidas pelo pecado vão para o Purgatório”; “Os fiéis vivos podem ajudar as almas do Purgatório por meio de suas intercessões (sufrágios).”

Portanto, o Purgatório existe, e nós podemos ajudar com nossas orações as almas que lá estão. Segundo a Igreja, isso é tudo o que sabemos com certeza. Duas questões ainda estão abertas à especulação: o que é o Purgatório e quanto tempo as pessoas passarão nele.

No entanto, Santa Catarina de Gênova nos dá uma ideia, pois ela teve visões do Purgatório para que pudéssemos saber mais sobre esse misterioso estado em que tantas almas entram.

De acordo com Santa Catarina, o Purgatório é um lugar onde há mais alegria e mais sofrimento do que tudo o que conhecemos neste mundo. Essa descrição é incompreensível para nós; nesta terra, é difícil conceber algo que cause alegria e sofrimento ao mesmo tempo — talvez o mais próximo disso seja o que uma mãe sente durante o nascimento de um filho. Normalmente, pensamos na alegria como a ausência de sofrimento, mas no Purgatório os dois estados estão, de algum modo, integrados.

Essa combinação de alegria e sofrimento revela a essência do Purgatório nas visões de Santa Catarina de Gênova. As santas almas desejam ardentemente ver a Deus e estão dispostas a suportar qualquer sofrimento necessário para isso. São Paulo nos diz em sua Primeira Carta aos Coríntios por que elas devem sofrer:

“Agora, se alguém edifica sobre este fundamento, com ouro, ou com prata, ou com pedras preciosas, com madeira, ou com feno, ou com palha, a obra de cada um aparecerá. O dia (do julgamento) irá demonstrá-lo. Será descoberto pelo fogo; o fogo provará o que vale o trabalho de cada um. Se a construção resistir, o construtor receberá a recompensa. Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo” (1Cor 3, 12-15).

As dores do Purgatório são comparadas ao fogo. Mas não é o fogo do inferno; é o “fogo devorador” do próprio Deus (Hb 12, 29). De acordo com Santa Catarina, esse fogo devorador refina o interior da alma no Purgatório, queimando as impurezas acumuladas ao longo de uma vida de serviço irresoluto a Deus. Mas esse mesmo processo traz imensa alegria, pois a alma sabe que está se aproximando da completa união com Deus. Como diz Santa Catarina: “Novamente a alma percebe a tristeza de ser impedida de ver a luz divina; ao ser atraída por aquele olhar unificador, a alma instintivamente também deseja com ardor ficar livre” (Tratado sobre o Purgatório, c. 9).

Como a Sagrada Escritura, a razão e Santa Catarina deixam claro, o Purgatório é um grande ato de misericórdia. É o processo pelo qual nos tornamos aquilo que fomos criados para ser: imagens de Deus sem qualquer apego ou impureza oriunda do pecado. Não nos esqueçamos dessa imensa misericórdia, rezando pelas almas do Purgatório e começando a tarefa de nos desapegarmos do pecado nesta vida.

Fonte: Comunidade Oasis e Eric Sammons – https://onepeterfive.com/st-catherine-of-genoa-and-purgatory/     |   Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere – https://padrepauloricardo.org/blog/purgatorio-um-grande-ato-de-misericordia

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